Charge de Gerson Kauer |
VER OU NÃO VER
Por Leo Iolovitch, advogado (OAB-RS nº 6.667).
Durante o banho a vizinha deixava a janela do banheiro entreaberta. Era uma jovem advogada, há pouco chegada na comarca de médio porte.
Esgueirando-se e olhando através das frestas da veneziana do seu quarto, o menino conseguia ter a visão dos seus sonhos. Era uma manobra difícil, pois não podia abrir sua janela, diante do risco de ser flagrado em plena espionagem.
Ele já conhecia os horários do banho. Ao aproximar-se a hora, fechava a porta do seu quarto e ficava aguardando o momento mágico. Não contou para ninguém.
Fingia naturalidade quando saía do quarto, pensando que na sua casa iam perceber algo, pois já estava se achando um pouco mais adulto. Um dia não resistiu e contou para seu primo.
O parente na mesma tarde foi até lá, compartilhar do segredo e também tentar ver a vizinha nua, ao entardecer. A visão que já era difícil para uma pessoa, era quase impossível para dois.
O primo, que tinha experiência em computador, sugeriu que usassem uma pequena câmera, colocando-a numa vara de pesca. Assim poderiam ter a visão completa do banheiro e, principalmente, da vizinha.
A proposta aparentemente não entusiasmou o jovem voyeuer. O primo insistiu com sua sugestão tecnológica, prometendo uma visão completa. Falou até na possibilidade de gravar.
Então o menino espião, que sempre fora o dono da situação e não estava gostando de dividi-la, pensou mais um pouco. Fez um ar de adulto e encerrou definitivamente a questão:
- Deixa assim. Não vou topar. Pensando bem, eu acho que a graça está em não conseguir ver tudo. Assim sobra mais para a imaginação...
Fonte: www.espacovital.com.br
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