terça-feira, 29 de junho de 2021

ROMANCE FORENSE

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Charge de Gerson Kauer

O voyeur bem educado

Um homem de 37 anos foi detido por espiar a vizinha tomando banho. Ele foi denunciado por fazer dois buracos na parede do banheiro da casa de um casal vizinho, para espiar a mulher em seus momentos íntimos.

Uma certa noite, a mulher - enquanto se banhava - constatou dois pequenos buracos circulares nos rejuntes entre duas fileiras de azulejos e percebeu dois globos oculares invasores, ativos e interessados. Então, discretamente, ela terminou o banho e avisou o marido.

O fato ocorreu em cidade no norte do Paraná. Para refrear novas investidas e flagrar o invasor ocular, o dono da casa aconselhou-se com um oficial da Polícia Militar e, orientado, ficou na espreita do vizinho suspeito nas noites seguintes. Não demorou quando viu o voyeur pulando o muro baixo e indo direto aos buracos na parede. Então ligou à PM.

O tarado foi detido por "importunação ofensiva ao pudor e danos ao patrimônio alheio e privado", segundo o inquérito.

No foro, designada audiência, iniciou-se o interrogatório.

- O senhor está sendo acusado de... - alongou-se o juiz nos detalhes pertinentes.

O réu defendeu-se, no depoimento, por meio de bem elaboradas frases:

- Meritíssimo, três coisas. Primeiro, refuto o apelido de "tarado", de que fui tachado pelos PMs, que me abordaram no flagrante preparado. Segundo, eu não nego as espiadas pelas quais, em momentos de fraqueza espiritual, admirei o belo alheio. Terceiro, eu não sou o autor dos furos. Eles já existiam, talvez feitos por alguém que me precedeu em contravenções semelhantes. Eu apenas aproveitei... O senhor, como magistrado, sabe daquela história de que, às vezes, a ocasião faz o ladrão...

Depois de uma risada geral, o juiz atalhou o depoimento. E advertiu o réu de "que este é um ambiente sério, razão pela qual advirto-o para manter comportamento compatível com a dignidade da justiça". E logo houve a transação penal.

O acusado aceitou pagar uma cesta básica e se comprometeu, formalmente, a não incidir na mesma prática.

Por questões de segurança, o dono da casa - e marido da bela trintona - já havia mandado tapar os dois buracos com uma chapa de ferro.

Ainda assim, um mês depois o casal mudou-se de bairro, para escapar dos sussurros da vizinhança.

Fonte: www.espacovital.com.br

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