A Martaruga
Marta Maria procurava se esforçar na farmácia onde trabalhava com duas funções, embora uma só constasse na carteira: era vendedora, mas obrigada a também atuar como limpadora. Nas horas de menor movimento, recebia do gerente a determinação de assear as prateleiras e limpar, uma a uma, as caixinhas de medicamentos que ficavam empoeiradas. |
Na faxina, Marta Maria ia bem. Nas vendas, mal. Não conseguia cumprir as quotas.
Isso irritava o gerente da filial, que tinha a expectativa de prêmio mensal sempre que a equipe de vendas superasse as exigências dos donos da rede.
O gerente, todos os sábados, fazia a média e constatava: Marta Maria vendia menos do que 70% da quota mínima. Por isso, destinou-lhe um apelido: "Martaruga".
Quando chegava um cliente chato - desses que só especula preço e não compra - com papel e caneta para anotar as ofertas, o gerente ironicamente comandava:
- Vou lhe passar a nossa especialista "Martaruga".
Tanto foi assim que, um dia, Marta Maria esgotou a paciência, pediu demissão, procurou um advogado e ingressou com ação por dano moral: "o apelido caracteriza uma notória humilhação e não apenas um trocadilho" - afirmou a petição inicial. Houve prova testemunhal, mas a decisão dos dois graus de jurisdição foi a de improcedência da reclamatória.
O relator no tribunal regional caprichou na verborragia: "nos dias atuais, ao influxo das concepções filosófico-sociais mais modernas, às quais o direito não poderia permanecer insensível, busca-se a valoração do ser humano na plenitude de sua existência físico-espiritual, do ser humano dotado de sentimentos e de auto-estima, do ser humano como ente inacabado que anseia a sua progressiva integração nas relações de vida em sociedade".
Mas, dando uma guinada, analisou a prova testemunhal e concluiu que "Martaruga" não era um apelido ofensivo !
Como decisões judiciais são para ser cumpridas, o advogado convenceu "Martaruga", aliás Marta Maria, de que ela deveria se conformar e, afinal, manter seu novo emprego de recepcionista num escritório de Advocacia tributária. Ela acedeu.
Mas partiu para a vingança surpreendente: comprou algo estranho numa loja da Avenida Júlio de Castilhos, colocou numa caixa de papelão enrolada para presente - com papel com a logotipia da rede de farmácias onde trabalhara. E, justamente no dia do aniversário do gerente, fez com que um motoboy entregasse o “mimo”.
Quando o destinatário recebeu o vistoso pacote, pensando que fosse alguma lembrança mandada pela empresa, ele inflou o peito e chamou os colegas para que compartilhassem da sua alegria.
Caixa aberta, dentro dela estava um cágado (assim mesmo, com acento no primeiro "a") e um cartão: "De Martaruga para o gerente mais cagado da rede...".
Sem acento no primeiro ´a´.
Fonte: www.espacovital.com.br
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