O BARBEIRO DA CORTE
O
Tribunal de Justiça proporcionava - entre outras mordomias aos
desembargadores - uma sala com serviços de corte de barba e cabelo,
prestados por servidor público, titular de um cargo em comissão.
Bem
vestido, polido e cultivador do juridiquês praticado pelos magistrados,
o barbeiro botava banca como fígaro competente, mas também palpitava
sobre casos judiciais polêmicos.
Certo dia - ainda antes do
advento da Internet - Porto Alegre foi sede de um encontro nacional de
magistrados. Um desembargador nordestino aproveitou para se inteirar
sobre a evolução do direito e as decisões pioneiras da justiça gaúcha.
Depois
de uma sessão de palavrórios e debates, encerrados os trabalhos, alguns
dos magistrados reuniram-se à frente do prédio do TJ, aproveitando o
clima agradável de fim de tarde, para olhar as belezas da Praça da
Matriz e curtir um papo gostoso.
Foi então que o desembargador
nordestino - dirigindo-se aos colegas gaúchos - pediu detalhes sobre as
posições inovadoras e as sentenças surpreendentes de uma juíza recém
chegada a Porto Alegre. O visitante queria saber, entre outras coisas, "sobre as posições do tribunal daqui sobre esses casos de homem com homem, mulher com mulher".
Justo
neste momento, deixava o prédio - bem-vestido como sempre - o barbeiro
da casa. Habitualmente gentil, sorria e se despedia de todos.
Arguto,
um desembargador gaúcho colocou o barbeiro na roda e, piscando-lhe o
olho como se fosse uma senha, deu a pista para a sequência da conversa:
- Apresento-lhe o colega aqui, que é especializado em causas de família e poderá melhor lhe explicar as novas posições...
O
nordestino ficou estático para aprender. E o barbeiro - fazendo as
vezes de desembargador - informou, nariz empinado, com voz pausada e
gestos teatrais:
- As posições jurídicas são as deitadas, as
sentadas, as laterais, as da mulher por cima, as da mulher por baixo,
mènage a trois etcetera. Também temos debatido muito sobre o artigo nº
69 do Código da Vida. E na semana passada julgamos, também, o caso
inédito de um curioso, que veio de nordeste, tem jeito de macho, mas
segundo o promotor da comarca, seria discreto admirador do
homossexualismo.
Quando o visitante parecia não entender mais nada, um forte riso geral, na roda, acabou com a cena.
Foi então que o suposto desembargador gaúcho apresentou-se pessoalmente:
- Muito prazer, eu sou o barbeiro da corte!...
Fonte: www.espacovital.com.br
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