terça-feira, 9 de fevereiro de 2021

ROMANCE FORENSE

O BARBEIRO DA CORTE

O Tribunal de Justiça proporcionava - entre outras mordomias aos desembargadores - uma sala com serviços de corte de barba e cabelo, prestados por servidor público, titular de um cargo em comissão.

Bem vestido, polido e cultivador do juridiquês praticado pelos magistrados, o barbeiro botava banca como fígaro competente, mas também palpitava sobre casos judiciais polêmicos.

Certo dia - ainda antes do advento da Internet -  Porto Alegre foi sede de um encontro nacional de magistrados. Um desembargador nordestino aproveitou para se inteirar sobre a evolução do direito e as decisões pioneiras da justiça gaúcha.

Depois de uma sessão de palavrórios e debates, encerrados os trabalhos, alguns dos magistrados reuniram-se à frente do prédio do TJ, aproveitando o clima agradável de fim de tarde, para olhar as belezas da Praça da Matriz e curtir um papo gostoso.

Foi então que o desembargador nordestino - dirigindo-se aos colegas gaúchos - pediu detalhes sobre as posições inovadoras e as sentenças surpreendentes de uma juíza recém chegada a Porto Alegre. O visitante queria saber, entre outras coisas,  "sobre as posições do tribunal daqui sobre esses casos de homem com homem, mulher com mulher".

Justo neste momento, deixava o prédio - bem-vestido como sempre - o barbeiro da casa. Habitualmente gentil, sorria e se despedia de todos.

Arguto, um desembargador gaúcho colocou o barbeiro na roda e, piscando-lhe o olho como se fosse uma senha, deu a pista para a sequência da conversa:

- Apresento-lhe o colega aqui, que é especializado em causas de família e poderá melhor lhe explicar as novas posições...

O nordestino ficou estático para aprender. E o barbeiro - fazendo as vezes de desembargador - informou, nariz empinado, com voz pausada e gestos teatrais:

- As posições jurídicas são as deitadas, as sentadas, as laterais, as da mulher por cima, as da mulher por baixo, mènage a trois etcetera. Também temos debatido muito sobre o artigo nº 69 do Código da Vida. E na semana passada julgamos, também, o caso inédito de um curioso, que veio de nordeste,  tem jeito de macho, mas segundo o promotor da comarca, seria  discreto admirador do homossexualismo.

Quando o visitante parecia não entender mais nada, um forte riso geral, na roda, acabou com a cena. 

Foi então que o suposto desembargador gaúcho apresentou-se pessoalmente:

- Muito prazer, eu sou o barbeiro da corte!... 

Fonte: www.espacovital.com.br

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