FUXICOS DE ALCOVAS NA SOLENIDADE
No foro de cidade interiorana gaúcha começaram a pipocar ações judiciais recíprocas de homem e mulher que queriam se separar litigiosamente. |
Ele, fazendeiro abastado, contratou um notório advogado da capital,
desembargador aposentado. Ela, do lar, deu procuração ao mais
conceituado advogado da região.
Preocupado com as repercussões locais, o juiz mandou apensar as quatro ações e designou audiência de tentativa de conciliação. Presentes as partes e seus advogados, o magistrado fez quase um discurso sobre a conveniência de conciliação. E - tendo em vista as recíprocas acusações de infidelidade - concitou os (ex)cônjuges e seus advogados a, "com especial sensibilidade avaliarem a possibilidade de acordo, até mesmo porque será melhor para as respectivas famílias, para os filhos do casal, e para os pais e sogros também".
Começaram, então, quentes e ferinas picuinhas - fruto dos ressentimentos dos supostos adultérios. Então, para dar mais liberdade às partes e seus advogados e evitar constrangimentos, o juiz propôs-se a, com o escrevente, deixar momentaneamente a sala de audiências. Cerca de meia hora depois, o magistrado foi informado de que as partes haviam conciliado e que o acordo seria submetido à homologação judicial.
O advogado da cidade interiorana, dizendo-se honrado com a presença do ilustre colega da capital, cedeu a palavra ao visitante para que esse ditasse os termos do acordo.
Datilografado o minucioso texto da transação pelo
servidor, o advogado da capital concluiu com uma frase típica do jargão
forense: "e, estando as partes certas e ajustadas, na forma das
condições avençadas, requerem homologar, por sentença, a presente
transação, remetendo-se os autos, após as cautelas de estilo, à vala
comum dos processos findos, e que se faça ´silêncio perpétuo´sobre todo o
processado".
- Sim, doutor, as
condições estão corretas. Porém, parece-me difícil cumprir a parte final
do acordo, relativa ao ´silêncio perpétuo´ sobre o processo, como quer o
nobre colega. Aqui é uma cidade do interior, onde todo mundo se
conhece, o povo é muito falador e fuxiqueiro e há muitas semanas só se
fala na separação do casal. Assim, não posso garantir que se faça
´silêncio perpétuo´ sobre um processo como este, embora pessoalmente eu
possa me comprometer em nome da minha discrição pessoal e de minha ética
profissional.
Contornando o impasse, o juiz conseguiu que as partes e seus advogados concordassem que a expressão "e que se faça ´perpétuo silêncio´sobre todo o processado" fosse retirada do termo do acordo - afinal homologado.
E, assim, na cidade, durante muitas semanas seguintes, um dos assuntos dominantes foi o acordo na separação do casal adúltero.
Mas sem "silêncio perpétuo" sobre sutís detalhes de várias alcovas...
Fonte: www.espacovital.com.br
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