ARQUIVEM-SE OS AUTOS - VOZ PASSIVA
De Porto Belo/SC recebi
consulta nos seguintes termos: "Ao concluir uma sentença, o juiz determina
que o cartório ou o escrivão faça chegá-la ao conhecimento dos interessados
(partes, autores, réus, etc.). Outras vezes profere despacho mandando chamar os
litigantes à sua presença. Seguidamente passa determinações para algum
funcionário. Para dar tais ordens, nos autos do processo, deve escrever:
1. Arquive-se, ou arquivem-se os autos?
2. Cite-se os réus, ou citem-se os réus?
3. Intime-se, ou intimem-se os litigantes do teor da sentença?
4. Apense-se, ou apensem-se os autos da falência?
5. Publique-se, ou publiquem-se os editais?
6. Expeça-se, ou expeçam-se os mandados de prisão?"
Já grifei as formas que
se preferem (olha aqui o verbo no plural!) na língua culta formal – como é o
caso – pois se trata da voz passiva sintética, em que o pronome SE é
partícula apassivadora. O verbo vai para o plural porque o sujeito está no
plural – sujeito gramatical, bem entendido. Esse sujeito passivo fica mais
claro quando se usa a voz passiva analítica, construída com o verbo auxiliar
"ser". São, portanto, formas equivalentes:
1.(Que) os autos sejam arquivados.
2.(Que) os réus sejam citados.
3.(Que) os litigantes sejam intimados.
4.(Que) os autos da falência sejam apensados.
5.(Que) os editais sejam publicados.
6.(Que) os mandados de prisão sejam expedidos.
Estamos vendo aí uma
ordem/determinação subentendida: "(Determino que) os autos sejam
arquivados" etc. Nos dois blocos de exemplos temos o caso não muito comum
de imperativo na voz passiva. Isso provavelmente justifica a dúvida, que em
geral não se tem diante de frases como Vende-se casas / Vendem-se
casas ou Publicou-se os editais / Publicaram-se os editais,
as quais se distinguem como linguagem popular / linguagem culta
(norma-padrão).
Já em orações de verbos
intransitivos ou transitivos indiretos (que não podem ser passados para a voz
passiva), a gramática considera o SE como índice de indeterminação do sujeito.
Isso significa que o verbo acompanhado do pronome SE mantém-se na 3ª pessoa do
singular mesmo que o substantivo a que ele se refere esteja no plural, porque
esse substantivo não é o sujeito da oração – no caso, o sujeito é
indeterminado. Em termos práticos: a presença da preposição que caracteriza o
verbo transitivo indireto indica que ele não deve ser pluralizado. Exemplos:
- Trata-se de sentenças já analisadas.
- Precisa-se de operários qualificados.
- No voleibol usa-se de vários artifícios para segurar a partida.
- Acabou-se finalmente com os mosquitos.
- No Brasil, infelizmente, não se obedece às normas de trânsito como se devia.
- Procedeu-se, de imediato, às apurações dos votos.
- Ou se desmontam as altas taxas de juros, ou se chegará aos tempos difíceis em que restos de comida valerão mais que um prato cheio.
É preciso alertar que
existem verbos com dupla regência, isto é, o mesmo verbo pode ser usado tanto
como transitivo direto como indireto; como direto, então, ele deve ser
pluralizado na voz passiva. É o que acontece, por exemplo, com tratar,
acabar e usar:
- Naquele nosocômio tratam-se enfermidades raras.
- Acabaram-se as preocupações com a dengue.
- No vôlei usam-se artifícios para segurar a partida.
Fonte: www.linguabrasil.com.br
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