Comentário:
Foi o primeiro livro que li deste autor e fiquei um pouco dividido em relação à sua escrita. Por um lado está lá um magnífico espírito crítico, uma análise social perfeita, uma leitura psicológica das personagens brilhante mas, por outro lado, a escrita de DeLillo não deixa de ser um pouco fastidiosa na forma como aprofunda determinadas situações, tornando-se algo enfática e, por isso, perdendo ritmo narrativo e pondo em causa o prazer da leitura. Na verdade, ler este livro exige um certo esforço; nada do que o autor escreve é vão, tudo parece ter um significado, por vezes bastante simbólico.
Em causa estão todos os males da sociedade norte-americana e nova-iorquina em particular. Ao longo do dia que passa na sua limusine, a fazer lembrar o Ulisses de Joyce, Eric Packer vive todas as desgraças que um cidadão inserido neste capitalismo selvagem pode viver; devido a esse contexto o livro tem por vezes passagens verdadeiramente negras a roçar o impossível ou, pelo menos, o surreal. Eric perde tudo ao longo do dia, graças a uma aposta falhada na cotação do iene. É o retrato de uma sociedade dominada pelos mercados, por uma realidade que ninguém conhece, uma espécie de superestrutura, uma máquina medonha que nos comanda a todos sem que nos apercebamos sequer dela.
“Desumanização” podia ser o título deste livro; Packer é um autómato; por mais rico que fosse, ele nunca teria uma vida própria; é um autómato, até na relação que tem com a esposa, determinada por interesses financeiros.
Depois estão aqui todos os outros grandes problemas da américa: a desagregação da família, a criminalidade e o caos no controlo da posse de armas, a ausência total de valores humanos e de solidariedade, enfim um mundo quase apocalíptico onde reina o egoísmo e os interesses materiais.
Em conclusão, trata-se de um livro com uma grande amplitude filosófica, uma reflexão profunda sobre o sentido do humano no mundo desumanizado do capitalismo; um livro interessante, que perde um pouco no ritmo narrativo mas ganha no significado profundo daquele dia na vida de Packer.
Sinopse: (in wook.pt):
Décimo terceiro romance do escritor italo-americano Don DeLillo, "Cosmópolis" passa-se num único dia (tal como o "Ulisses" de Joyce) de Abril de 2000, antes da subida do iene e da queda dos florescentes mercados financeiros dos anos 90. Eric Packer é um multimilionário que enriqueceu com a bolsa, tem 28 anos, e decide sair da sua rica mansão e tomar a limusine para ir cortar o cabelo, pelo que tem de atravessar Manhattan. Esta travessia (há um grande engarrafamento, está claro) torna-se uma viagem vertical, um autêntico desfile de figuras e acontecimentos bizarros, paisagem da moderna alma ocidental de fim de século.
Fonte: aminhaestante.blogspot.com.br
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